Sofia C. sai de casa como de costume, caminhando tranquilamente. Sofia é uma garota estranha, apática na maior parte do tempo. Todos seus gestos mostram uma indiferença desconcertante, mas sua mente não nega seus sofrimentos, e sua voz revela quase que sempre sua insegurança.
Veste All Star surrado, uma calça confortavelmente deselegante, e uma camiseta preta de uma banda qualquer, comprada por 5 reais numa lojinha suja e abafada. Nas costas sua mochila de estudante, nos braços seu Laptop de estudante, e no ouvido fones ligados a um Ipod pra confirmar que é uma estudante comum.
Ouve música desconhecida numa altura que deveria ser menor. Cantarola mentalmente as letras depressivas exageradas . Não pensa em muita coisa. Não vê muita graça. Curte uma melancolia eterna, pensando se algum dia vai se acostumar consigo mesma.
Nunca vai deixar de lado sua mania de querer ir contra tudo que é normal, e se joga vulgarmente numa busca sem fim por uma vida que não persegue, pois tem preguiça.
Tenta coordenar os passos enquanto caminha na linha do trem sob a ponte. Mas os trilhos são muito próximos para uma caminhada normal, e muito distantes para serem pulados de dois em dois.
Seu corpo se esquenta no calor de 35 C, e Sofia tenta guardar o calor pra si. Sente seu cabelo recém lavado se secar rapidamente e se umidificar ao mesmo tempo com o suor. E prefere essa sensação quente e fatigante ao frio que sente nos ossos, na maior parte do dia.
Então olha pra trás e vê o trem se aproximando a poucos metros. Como é que pôde não perceber o barulho, o tremor do chão? Provavelmente estava desatenta, e confundiu a vinda do trem, com o tráfego de carros embaixo da ponte. Tarefa não tão difícil pra alguém que dá mais importância o som que sai dos fones de ouvido do que para o mundo a seu redor.
Ainda no meio da linha , pára. Calcula se ainda é possível se salvar. Pensa no que teria que fazer pra que não se machuque. Está tão estupefada com a surrealidade da situação que flerta com um desfeixo trágico. Ainda há tempo.
Mais uma vez cambaleia no trilho irregular. Pensa no Laptop em baixo de seu braço, que acabou de comprar junto a um Case macio de tecido sintético, que de tanto ser carregado em baixo de seus braços sob um sol imponente, já cheira a chulé.
Joga o Case com o Laptop pra fora da linha do trem.Continua parada. Não abre os braços, não sorri.Nem sequer se mexe. Não grita, nada! Só pensa que seu computador esta a salvo.
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Um comentário:
Uma bela história...
eu veria esse short movie!!
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