segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Dawson's Creek e Minha Vida.

Eu poderia tentar dizer que Dawson's Creek é meu maior guilty pleasure. Mas a verdade é que isso seria uma mentira, novela é um guilty pleasure, e DC ultrapassa barreiras e acaba sendo bem mais do que isso. DC é uma paixão, e devo confessar que não sinto culpa nenhuma de gostar tanto assim do seriado. Aliás, sinto é orgulho.

Hoje percebi que tudo o que eu sei, aprendi em DC. A forma com que penso, o jeito que lido com as coisas, meu conhecimento cultural...tudo é tão parecido e interligado com DC que fico sem saber se gosto tanto do seriado porque me identifico muito, ou se me identifico muito porque foi o seriado que deu formato à minha pessoa. E sem medo de estar exagerando, eu diria foram as duas coisas.

Cresci acreditando que não existiam fronteiras entre as pessoas quando falamos de sentimentos. E acreditando que discutir esses sentimentos, dissecar internalidades e compartilhar idéias são coisas necessárias para uma vida feliz e normal. E acima de tudo isso, qualquer adolescente de 15 anos é plenamente capaz de te entender, e te surpreender com uma dose sinceridade.

Baseado nisso, confesso que passei boa parte minha vida visualizando conversas imaginárias, com vizinhos/melhores amigos/pares românticos imaginários, sentada no pier. Milhões de vezes quando me sentia triste ficava esperando amguém me cutucar as costas, e através de sarcasmos leves tirar o peso dos meus questionamentos existenciais.

Acho que por causa disso, vira e mexe me pego sofrendo de uma nostalgia gigante que me obriga a ver um episódio preferido de DC, ou só aquela legendária abertura com a música da Dido. E o interesse repentino da minha irmã pela série só piorou minhas crises nostálgicas e eu hoje fui obrigada a rever aquela cena clássica onde Dawson estrapola, fica bêbado, canta um blues hilário, e depois destrói todo mundo com verdades cruéis em sua festa de aniversário.

Como todo bom seriado dramático, existe um tema escondidinho, porém importante por trás de cada episódio. E o tema desse foi solidão. Não a solidão em si, mas aquela mais complexa que todo mundo sente interiormente, não interessa quantas pessoas tem em volta da gente. Aquela que faz a gente se sentir isolado, diferente, querendo loucamente ser normal.

O Dawson e sua solidão por ver que todo mundo estava mudando, andando, se mexendo enquanto ele continuava parado, o mesmo. A Joey e sua solidão por não saber quem ela realmente é, não saber se ela é capaz de ser inteira por si só. O Jack por ser o primeiro e único gay a sair do armário em Capeside. A Abby por aceitar a crueldade das coisas, e representar 'o mal' no seriado. E a Andie por sentir que carrega sozinha o peso da família.

Foi fácil concluir porque esse episódio é um dos meus favoritos, e porque ele tanto me marcou. Acho que já senti, de uma forma ou de outra, todos esses tipos de solidão. Na verdade, esse tipo de solidão existencial é um dos pontos mais marcantes em minha vida. E não fosse por DC, talvez eu nem seria capaz de reconhecer esse ponto...

... o que me leva a crer que, o grande furo, defeito, ponto negativo de DC é o fato de que nunca em um dos episodios o seriado nos prepara para a falta de realidade que existe no mundo real. O seriado não nos prepara para o fato de que não existe um vizinho/melhor amigo/par romântico disposto a ouvir sobre nossa solidão e falar da dele. Enfim, que não existe praticamente niguém no mundo capaz disso. Embora todo mundo se sinta sozinho, isolado, anormal por algum motivo, (quase) ninguém tem inteligencia emocional e/ou coragem de discutir essa solidão com os outros, e nem a capacidade de escutar a solidão dos outros também.

Resumindo, se o assunto for solidão, diferentemente de DC, cada pessoa vai guardar a sua solidão pra si, não só aumentando-a, mas também criando uma solidão ainda mais só por não conseguir dividir a nossa solidão com a solidão dos outros.

Como diria a Daisy de Once and Again (outro seriado dramático que tem muito a nos ensinar sobre nossas prórpias vidas): a televisão só serve pra jogar na nossa cara tudo aquilo que nunca conseguiremos ser.

E é verdade. Embora DC seja único em lidar e expor problemas reais de pessoas comuns, o seriado oferece soluções para os mesmo problemas que parecem simples e tangíveis, mas que na verdade são absolutamente impossíveis a utópicas. E agora, com 22 dois anos, depois de viver metade da minha vida acreditando que eu era a Joey e procurando minha alma gêmea Dawson, isso me revolta um pouco.

Uma coisa não dá pra negar, porém; DC tem muito a nos ensinar, e qualquer pessoa que assistiu os 128 episódios recheados de sabedorias existenciais e filosóficas provavelmente desenvolveu uma inteligência emocional diferenciada. Assim como qualquer pessoa que tenha visto os 236 episódios de Friends tem que ser, pelo menos um pouquinho, engraçada.

Não que esse seja o único jeito de adquirir inteligência emocional e um reportório de boas piadas. Muito pelo contrário, eu sei que essas horas gastas com televisão poderiam ser administradas de 'n' outras formas mais produtivas. Mas meu argumento aqui é pra reinforçar a moral de história do filmaço High Fidelity: Filmes, livros, discos, séries...essas coisas são importantes, e determinam nossa vida mais do que a gente imagina.

Okay, eu sei que a moral da história de High Fidelity não é essa...mas eu levo muito a sério essa filosofia.

"... what really matters is what you like, not what you are like... Books, records, films - these things matter. Call me shallow but it's the fuckin' truth..."

Aaaah..e Dawson's Creek é o melhor e mais bem escrito seriado do mundo. ponto.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Belle ou Sebastian

Sempre achei que eu era a Belle da música Belle and Sebastian, do Belle and Sebastian do álbum Belle and.... (BRINCADEIRA! É do Single lançado no Push Barman)... mas enfim, hoje talvez a ficha tenha caído. Acho que sou o Sebastian! Como nunca vi isso antes? Tão óbvio! Ou não.

Talvez nunca tenha visto porque não é nada girly ser o ‘cara’ na música, em vez de ser a mina. Ou simplesmente porque, na verdade, a gente é quem a gente quer ser. E eu quero ser a Belle.

Será? Bem...chego à essa conclusão usando os argumentos encontrados nos filmes de Almodovar; que o louco desse Almodovar sempre dá um jeito de mostrar que a gente tem quem ser quem a gente pensa que é, mesmo se a gente pensa que é uma coisa que não é. Mesmo se a gente quiser ser uma coisa meio doentia. Está sempre tudo bem, contanto que a gente esteja feliz com a gente mesmo. E isso explica porque tem tantos Travestis nos filmes dele. Aliás, em Tudo Sobre Minha Mãe o próprio travesti explica o argumento dizendo que existe sim (!) autenticidade em ser um travesti. Afinal, se ele se vê e deseja ser mulher, ele é mulher (mesmo sendo homem). Que a essência das coisas está na aparência, e na vontade...muito mais do que nas profundezas das coisas em si.

No filme High Fidelity também rola um questionamento parecido; o personagem do John Cusack tem um ponto quando diz que as músicas que a gente escuta, os livros que a gente lê, e os filmes que a gente vê dizem sim quem a gente é. E acho que ele está certo, afinal a gente só aprecia a arte que gosta, e se a gente gosta é porque se identifica...e se a gente se identifica...

Anyways, usando essa linha de pensamento, talvez eu possa argumentar que eu sou a Belle. Porque eu quero ser a Belle, eu adoro losers, tenho meus momentos Blasès, e eu meio que tento desesperadamente ser fodona como ela- resultando numa arrogância as vezes tão irritantemente infundada que só pode ser explicada pelo fato de que eu tenho certeza ‘que sou the only fun in town’ em vez de só ‘me achar’.

Ultimamente, porém, essa crise pseudo-existencialista Belle&Sebastiana tem ocupado minha mente. Ando meio desarmada, sem meus clássicos e avançados mecanismos de auto-defesa...em contato com meu verdadeiro, ou simplesmente novo, eu interior. E meu verdadeiro, e/ou novo eu interior é bastante loser, apreensivo, sem graça, na média...

Na verdade, vejo muito, tanto da Belle, quanto do Sebastian em mim. Provavelmente porque na vida não existem extremos...uma vez que tenho os traços losers e problemáticos do Sebastian em mim, parto desesperadamente pra um Belle-Life-Style...e funciona! Pelo menos um pouco. Daí dependendo do dia eu sou o Sebastian, dependendo do dia eu sou a Belle....mas no geral...acho que fico meio in between.

“Oh Sebastian wrote his diary that
He would never be young again
But you will
Fellow, you are ill
You'd better take a weight off of your mind and listen
To what other people say
Cause things are going wrong your own way”

Mas eu ando bem mais Sebastian ultimamente. E ponto.


***

Americano usa muito a palavra procrastinar, coisa que Brasileiro não faz muito. Eu sempre entendi o uso da palavra nas frases, mas nunca soube o literal significado da mesma. Esse dias bateu a curiosidade inútil e fui procurar no dicionário. Melhor dizendo, dei um Google e acabei na Wikipédia. A definição de procrastinar foi bem boring, e esperada...mas me deparei com algo interessante:

“As causas psicológicas da procrastinação variam muito, mas geralmente tendem a fatores como ansiedade, baixa auto-estima e uma mentalidade auto-destrutiva. Pensa-se que procrastinadores têm um nível de consciência abaixo do normal, mais baseado em "sonhos e desejos" de perfeição ou realização, em vez de apreciação realista de suas obrigações e potenciais.”

Ando procrastinando pra caramba...e confesso que as causa apontadas acima meio que se encaixam perfeitamente no meu caso...

Agora.... nível de consciência abaixo do normal????? Não seria acima do normal? Na boa, minha experiência de vida diz que apreciação realista das obrigações e potenciais apresenta bem mais perigo do que apreciação não-realista; Tipo, se nosso nível de consciência é baixo, a gente tende a fazer nossas coisas agora; ou porque a gente se acha pior do que é, subestima o peso das responsabilidade e faz tudo agora pra correr atrás do prejuízo...ou porque a se acha melhor do que é, superestima o peso das responsabilidades e então faz agora por achar fácil e pra se exibir.

Se você sabe exato quais são suas obrigações e pontenciais, on the other hand.... se a gente tem um nível de consciência acima do normal, ou deixa tudo pra depois porque sabe que vai dar conta na última hora, ou deixa pra última hora porque sabe que não vai dar conta mesmo, e foda-se.

Aminha desculpa pra procrastinação é que é mais emocionate deixar as coisas pra última hora...e também porque é na última hora que sou mais produtiva. Pelo menos eu gosto de acreditar que sim.



***

Life is good.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

L'amour e Outras Loucuras.

O legal de filme bom é que a gente só entende, ou pensa que entende, o filme uns dois dias depois de ter assistido, Até dar aquele insight genial de porque o filme fez uma marca na sua vida de algum jeito. Foi mais ou menos isso que me aconteceu hoje, depois de ter assistido A Fronteira Da Alvorada ontem. É..considerável lag. Mas enfim, estava eu, descendo pelo caminhozinho do Jardim Florença depois de uma corridinha básica de 20 minutos, quando vejo no banquinho em baixo da árvore da minha rua um casal feliz, de adolescentes apaixonados tirando fotos. Tipo aquelas fotos meio ridículas mesmo... o fato é que o jeito com que os dois pousavam pra foto, e se abraçavam e se preocupavam em fazer um olhar sexy-ao-mesmo-tempo-apaixonado, me pegou. Pensei na hora que o amor é uma coisa diferente pra cada casal. Diferente pra cada pessoa, na verdade. E acho que A Fronteira Da Alvorada meio que é sobre isso, sobre a loucura inexplicável que é o amor.

O filme é doido, simbólico de um jeito ininteligível. E como todo romancinho Francês pesado, foca no link entre o amor e o suicídio. Como telespectadora, tive a impressão que ninguém no filme se amava. Louis Garrel (personagem principal) nunca demonstrou muito afeto pela namorada atriz dele, que por sua vez era casada, e nunca teve a intenção de abondonar o marido que morava na América. Aliás, é exatamente depois da visita desse marido que Garrel se cansa das loucuras da namorada atriz, e passa a evitá-la. Tudo isso com uma evidente tranquilidade de quem está tocando a vida pra frente. E os dois só voltam a se encontrar quando Garrel descobre que, por sua causa, a namorada atriz teve crises depressivas e está internada num hospital psiquiátrico. A situação dos dois continua a mesma, o relacionamento é superficialmente tratado por ambas as partes, e a coisa só fica séria quando a mulher se mata...tipo assim, do nada.
Pelo menos pra mim, pareceu do nada. E todo o remorso do Garrel, pra mim também parecia infundado. Afinal, em nenhum momento o amor dos dois pareceu verdadeiro.

Daí, como todo romancinho Francês pesado, o filme tomou um rumo doido e mudou completamente de ritmo; o Garrel começou a ser assombrado pelo fantasma da ex-namorada...pode isso?
O mais bizarro de tudo é como Garrel interpreta essas aparições. Óbvio que ele sabe que não se trata de fonômenos sobrenaturais, mais sim de seu subconsciente. Ele também, através da lógica, vê que seu subconsciente está aprontando essa por conta do remorso que ele sente, em saber que, de certa forma, a ex-namorada se matou por causa dele. Mas em vez de lidar com esse remorso (veja bem, à essa altura do filme ele já estava com uma outra namorada, também muito frágil emocionalmente, que estava grávida), ele conclui que o principal motivo das aparições da falecida ex é o amor que ele sentia por ela. Conclusão doida, considerando que Garrel nunca demonstrou amá-la, e que teve milhões de oportunidades de estar com ela. Enfim...concluído que a falecida ex namorada foi o grande amor da vida dele, Garrel, assim como a ex, se joga da janela, vestido de noivo, horas antes de seu casamento.

Analisando a situação, à primeira vista, eu achei o filme lindo, mas bobo. A namorada suicida do Garrel era nada mais do que uma atriz alcoólatra louca, e o Garrel nada mais do que um covarde, com medo de relacionamentos sérios, que se enganou pensando ter sido apaixonado por uma pra achar uma desculpa pra se matar e fugir de um relacionamento sério com outra.

Mas o sogríssimo Phillipe Garrel dificilmente faria um filme tão....realista assim. não em preto em branco, não usando cartas como o meio de comunicação eleito....obviamente tem algo mais. E uma vez que analiso o filme sem meus preconceitos...quem sou eu pra julgar o amor dos outros, né? Primeiro que de fora, nada que os outros vivem parece verdadeiro. Segundo, um amor pra ser verdadeiro tem que ser...verdadeiro em todos os sentidos? Ou o conceito de verdadeiro é relativo?

Porque se o conceito de amor verdadeiro for relativo, ou mutável, os suicídios românticos utópicos de A Fronteira Da Alvorada talvez tenham sido válidos. E tirar fotos bregas com paisagem no fundo também possa ser válido...enfim...talvez, a grande sacada seja assumir que o amor é umas das poucas ( de muitas) loucuras da vida que são consideradas aceitáveis. Atos insanos podem ser justificados e ditos normais no amor..e faz sentido, que senão ninguém amava, certo? Afinal, deve ser impossível racionalizar um sentimento tão forte,e mais impossível ainda julgar um sentimento como certo, errado, verdadeiro, superficial...
Acho que a lição que tirei do filme vai facilitar meu entendimento de relacionamentos alheios, e dos meus próprios talvez.... Bem..prometo ser mais mente aberta pelo menos, e tratar relacionamentos que acho errado ou doentios com respeito, prometo!

***

Se Fronteira da Alvorada vai provavelmente ser o filme do meu mês-no-Brasil, Walters do Pinback vai com certeza ser a música! E acho que arte é uma outra das loucuras da vida que são consideradas aceitáveis. Por que, meu!!!! Música loucona! Coisa mais linda....meio shoegaze, com solinhos de guitarra constantes que vão unindo forças pra um climax mais ou menos eletrônico seguido de um último minuto pesado, de fazer todo mundo pular.
Anyways...qual não foi minha surpresa ao descobrir que essa música tão linda foi escrita em homenagem a Larry Walters, o pioneiro na arte de voar alto numa cadeira amarrada a bexigas de aniversário? Sim, a mesma façanha que aquele padre do sul tentou fazer, Só que Walters fez antes, de forma mais ilegal e... sobreviveu!
O que me pega é pensar o que passava na cabeça do caras do Pinback pra conseguir escrever uma música tão lindona sobre um assunto tão...sei lá! Por isso que música é arte, e arte é uma loucura aceitável que nem o amor. Quanto mais louco, melhor!
Agora...a idéia do Walters, e do padre de voar com bexiga definitivamente é uma loucura não aceitável.